sábado, 29 de março de 2014

Contra os Acadêmicos - Santo Agostinho





Contra os Acadêmicos foi o primeiro livro escrito por Santo Agostinho. Trata-se de um diálogo onde o filósofo inicia sua busca pela sabedoria, o que aliás é o próprio assunto da obra. Agostinho tinha acabado de se converter ao cristianismo e refugiou-se durante 6 meses com seus discípulos em uma cidade perto de Milão, período onde seus primeiros diálogos foram escritos.

Agostinho acreditava que a pergunta era o método mais apropriado para buscar a verdade. Seus diálogos começam pela colocação da questão, a disputa (discussão) e termina na descoberta.

Na colocação da questão a ser discutida, Agostinho reflete sobre a fortuna, entendido por ele como o destino. O filósofo afirma sua crença na existência de uma ordem no mundo e, o que denominamos destino, nada mais é do que parte de um plano maior e além de nossa compreensão.


"Talvez o que vulgarmente se chama fortuna é regido por uma ordem secreta e o que chamamos acaso nos acontecimentos se deve ao nosso desconhecimento das suas razões e causas, e não há nenhum acontecimento particular feliz ou infeliz que não se harmonize e não seja coerente com o conjunto de tudo. (...) Se a divina providência se estende até nós, do que não se deve duvidar, acredita-me, o que está acontecendo contigo é o que é necessário acontecer."

A grande questão do seu primeiro diálogo é a possibilidade de encontrar a verdade. Os Acadêmicos, intelectuais de sua época, sustentavam que não. O sábio era aquele que procurava a verdade, mesmo que nunca a encontrasse. Em função disso, deveria abster-se de emitir qualquer opinião para evitar o erro e ser exposto ao ridículo.

Através de uma série de diálogos, entre seus discípulos inicialmente, e depois entre ele e um colega, Alípio, as questões são discutidas. Fiel à dialética platônica, a discussão só tem sentido quando opiniões contrárias são colocadas e confrontadas. Inicialmente entre Licêncio e Trigécio e finalmente entre Alípio (defendendo os acadêmicos) e Agostinho (refutando-os).

Em resumo, Agostinho defende que:

1. É irrelevante discutir se é possível alcançar a felicidade apenas pela busca da sabedoria, mesmo sem alcança-la. Argumentava que de qualquer forma a busca da sabedoria era necessária para ser feliz, mesmo que não fosse suficiente. O importante era engajar-se nesta busca.

2.Não deve achar que não é possível encontrar a verdade na filosofia, que já entendia como o cristianismo. Deveriam acreditar naquele que disse: procurai e achareis.

3.Não fazia sentido a crença dos acadêmicos de que era possível identificar o verosímil embora não se soubesse a verdade. Ou se conhece a verdade ou não. Se não a conhece, não se pode chamar algo de verosímil.

4.Embora não se pudesse afimar ser possível encontrar a verdade, por não ser um sábio, acreditava que era provável que fosse encontrada.

5. Para que alcançasse a sabedoria era necessário que a fortuna assim o permitisse, pois ela poderia tirar o filósofo de seu caminho, muitas vezes até com a interrupção da vida. Agostinha expunha pela primeira vez uma das idéias centrais de sua filosofia, para alcançar a verdade era necessário a graça divina.

6. O sábio tem a consciência da verdade, por isso não teria problemas em dar seu assentimento a ela, já que não seria mais uma opinião. O verdadeiro sábio não tinha como errar pois se pudesse, não seria ainda um sábio.

7. Acreditar que a verdade está vedada ao homem é cair no que chamou de cepticismo acadêmico, a crença que nada se pode saber.

Agostinho, assim como Platão antes dele, levantou questões que são extremamente atuais nos dias de hoje. Em um mundo em que o relativismo encontra cada vez mais abrigo, cada vez mais o homem se pergunta não só se é possível encontrar a verdade, mas se ela realmente existe; afinal, tudo é relativo. Inclusive a verdade.

O filósofo iniciava também sua incorporação do platonismo ao cristianismo. Da crença da separação da existência em dois mundos, o dos sentidos e o das formas, Agostinho identificou o primeiro como a realidade que o homem percebe e a segunda como o reino de Deus. A filosofia para ele seria o próprio cristianismo já que a verdade não poderia ser encontrada em outro lugar que não fosse em Cristo.


“Esta filosofia não é a deste mundo, que nossos mistérios com toda a razão abominam, mas a de outro mundo intelegível, ao qual a sutileza da razão jamais teria levado as almas cegadas pelas multiformes trevas do erro e soterradas sob a enorme massa das impurezas corporais, se o sumo Deus, movido de misericórdia pelo seu povo, não tivesse inclinado e abaixado até o corpo humano a autoridade do Intelecto divino, de tal sorte que, excitadas não só pelos preceitos mas também pelas obras pudessem, mesmo sem as disputas, entrar em si mesmas e olhar para a pátria.”

FONTE: http://cantodojota.blogspot.com.br/2009/01/contra-os-acadmicos-santo-agostinho.html

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